Flavio Cruz

Um amor além da imaginação

Tantas lembranças boas da vida e lá estava ele, pouco a pouco, perdendo tudo. Não reconhecia mais as pessoas, as coisas. Um grande vazio. Triste mesmo foi quando um de seus filhos chamou-o de papai e ele ficou zangado e surpreso. Foi reclamar com sua mulher. Imagina um estranho chamando-o de “papai”. Não queria confusão, melhor avisar a Elsie.  Foi quando o filho percebeu o que muita gente não percebe. O pai não conseguiria jamais chegar a seu mundo, o real. Era melhor ele ir para o mundo do pai. Embora irreal e estranho, pelo menos o doente teria uma certa sensação de normalidade e não ficaria enfurecido.
Asim, a situação ficou um pouco melhor e a esposa continuava sendo o porto seguro, alguém que ele reconhecia, alguém em quem ele poderia se agarrar nesse seu estranho mundo. Estava claro que ele estava com Alzheimer. Um dia, todos juntos, o filho – para nosso personagem apenas um amigo que enfrentava a casa – arriscou uma pergunta: “E a Elsie, você sabe quem é?” Ele, seguro, disse que sim. Não satisfeito, o filho insistiu: “E então, quem ela é? Com um sorriso distante, porém seguro, ele responde: “Eu não sei quem ela é, mas eu a amo.” Uma resposta ao mesmo tempo amarga e doce. Estavam diante da tristeza da doença devastadora que matava todas lembranças, mas que se via derrotada por aquela força tremenda, a força do amor.
Uma história bonita e triste ao mesmo tempo, inventada por um contador de histórias? Nada disso. Aconteceu! Esses fatos foram narrados pelo próprio filho, Christopher Eccleston, numa entrevista a NPR (National Public Radio), uma espécie de Rádio Cultura dos Estados Unidos. Para quem não sabe, Eccleston é um dos principais atores da série americana “The Leftovers”.
Não sei se é uma boa ideia tirar conclusões sobre o amor, sobre a doença, etc. Eu, pelo menos, acho melhor ficar com essa doce imagem na cabeça. Um grande amor, superando tudo, até a própria identidade das pessoas.

 

Todos los derechos pertenecen a su autor. Ha sido publicado en e-Stories.org a solicitud de Flavio Cruz.
Publicado en e-Stories.org el 12.07.2016.

 
 

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